jueves, 9 de abril de 2015


O LAR SILOÉ, GESTAÇãO DO PROJETO E EXECUÇãO

 


 

Em Dezembro do ano 2.000, num vôo procedente de Lisboa, aterro no Aeroporto Internacional da Beira e estabeleço a minha morada na Paróquia da Sagrada Família do Bairro da Manga-Mascarenha. Desde aí faço os meus primeiros contato com o Bairro da Munhava e só no primeiro domingo da Quaresma de 2.001 (março) é que cheguei e foi apresentado à Paróquia de São José da Munhava pelo Pe. Yocondo.

 

Até o mês de Agosto mantive a minha moradia na Paróquia da Sagrada Família, desde lá é que ia a Munhava para limpar o recinto “cheio de fezes” e arranjar a casa dos Padres muito deteriorada. Pronto um grupo de jovens do Bairro da Munhava e alguns do Bairro da Manga-Mascarenha começaram a me ajudar na tarefa das manhãs. Nas tardes iniciei encontros com grupos da Paróquia e incentivei os encontros nas zonas (Comunidades). Ainda não estava tudo em ordem quando um grupo de jovens de Machipisse vieram ter comigo para iniciar um projeto com crianças: “A Sombra da Criança”. Aquilo achei muito interessante, já que um branco fica surpreendido  ao chegar à África e constatar tantas crianças de aça para acolá, é assim que iniciou o trabalho da Paróquia de São José da Munhava com crianças na etapa do Pe. António José Aguilar Verdugo.

 

Com a chegada dos primeiros hóspedes, Pe. Ramón e Miguel, descobri novas situações das crianças no Bairro da Munhava. Aquele gosto do Pe. Ramón por passear com os acólitos da Paróquia lhe levou até a casinha da “Fundação de Auxilio às Crianças Órfãs de Moçambique – FACOM” sita trás as barracas da rotunda da Munhava-Matope (Rua Kruss Gomes), e me falou que tinha comprado alimentos para aquelas crianças que estavam acompanhadas por um pastor duma Igreja Protestante. Fiz-me presente no local, dias depois, e comecei a me preocupar pela situação das crianças órfãs na Munhava. Como colaborador do Pastor iniciei um projeto para financiar a construção duma nova casa para as crianças órfãs da “Fundação de Auxilio às Crianças Órfãs de Moçambique – FACOM”. Naquele entretempo que vai da elaboração do projeto até procurar parceiros na Espanha para o financiar, surgiu alguns problemas entre Pastores daquela Igreja (alguma coisa não ia bem com o doador sul-africano) e levaram as crianças que tinham na rotunda da Munhava-Matope para o interior de Casquinha em direção ao Vaz.

 

A partir destas confusões com os Pastores decidi apresentar a minhas preocupações às Mães Legionárias da Paróquia da Munhava. Foram elas as grandes colaboradoras que encontrei para elaborar a primeira estatística de crianças órfãs residentes na Munhava de idades compreendidas dos zero aos catorze anos. Percorremos todos os cantos da Munhava, de zona a zona, e encontramos a 189 crianças órfãs nessas idades. Neste trabalho realizado pelas Mães Legionárias, quem mais me ajudou foi Dona Maria João Menezes (conhecida como Dona Maria Brito).

 

Aquele primeiro projeto o reelaboramos e fizemos um novo projeto para executar nos terrenos da Paróquia, com todo aquele problema da ocupação do quintal pela Escola Primaria 25 de Junho, das barracas trás o Mercado Central da Munhava, a defecação ao ar livre, a lagoa que cobria grande parte do quintal... O primeiro que tínhamos a fazer foi a construção do muro no redor do quintal e ao mesmo tempo desocupar o quintal de casa e barracas. Ao tempo que íamos aterrando aquelas lagoas. Tudo foi feito com a ajuda do parceiro da Espanha “Esperança para Moçambique” e eles próprios apresentaram o projeto a Manos Unidas no ano de 2.002, ainda que no mês de Agosto do mesmo tive eu que enviar uma carta de pedido do projeto já que Manos Unidas trabalha só com parceiros no lugar de execução do projeto.

 

Em Abril-Maio de 2.003 participei na Assembléia do I.E.M.E. no Madrid (Espanha) e ao término da mesma visitei a minha terra, onde tive possibilidade de apresentar ao grande público a situação da Munhava e o empenho por construir um orfanato na Paróquia de São José da Munhava. Entre as pessoas que vieram a assistir aquela apresentação estavam alguns representantes da ONG “Siloé”.

 

A minha volta ao Moçambique recebo a noticia de que Manos Unidas financia a construção do orfanato. No momento que recebemos o primeiro envio de dinheiro iniciamos as obras com “Construções Mussalafo”. Encontramos muitas dificuldades para realizar as fundações da cozinha- refeitório e do dormitório.

 

Enquanto a construção levava o seu ritmo, nós iniciamos o trabalho de preparar as futuras mães que iam trabalhar no Lar com as nossas criançinhas órfãs da Munhava. Com a ajuda de Dona Maria Brito e a Ir. Aurora (futura Diretora do Lar Siloé) fomos escolhendo mães viúvas (ainda algumas eram casadas devido a sua disponibilidade nas tarefas da Paróquia com respeito ao trabalho de localização das criançinhas órfãs) das diferentes zonas (Comunidades) da Munhava para formar a futura equipa das trabalhadoras do Lar Siloé.

 

De aquelas 189 crianças localizadas fizemos a primeira seleção, depois de falar com as Mães Legionárias, Dona Maria Brito e Pe. António fomos selecionando as 52 crianças órfãs em situação mais crítica devido à doença que apresentavam algumas delas ou bem devido à falta de apoio das famílias (órfãos/meninos da rua), ou bem devido a que a encarregada da criança ela uma bobó muito idosa sem forças para aculimar.

 

Estes foram os critérios que Dona Maria Brito e Pe. António tiveram em consideração no início do Lar Siloé: ajudar às crianças órfãs da Munhava e ajudar as viúvas da Munhava ao mesmo tempo.

 

Sem terminar a construção do dormitório nos surpreende a grata notícia que nos chega desde a ONG Siloé: eles receberam ajuda da Caja de Ahorros de San Fernando de Sevilla/Jerez para construir o lar. Então continuamos as construções, tivemos que duplicar o aterro com ajuda financeira de “Esperanza para Moçambique”, e com os fundos procedentes de “Siloé” iniciamos o segundo dormitório (ficou como dormitório dos rapazes) e a lavanderia-hospedaria. Nesses mesmos meses volta novamente uma outra boa nova para a Paróquia de São José da Munhava: a ONG “Siloé” se compromete a financiar as despesas do “Lar Siloé”, e com um convenio a três bandas assinam o compromisso de garantir a boa marcha do projeto com crianças órfãs da Munhava/Beira o Arcebispo da Beira, a Provincial de São José de Cluny e a Presidenta da Asociación Jerezana de Ayuda a los Enfermos de Sida “Siloé”.

 

As primeiras 52 crianças (26 rapazes e 26 raparigas) que recebemos, com a autorização do seu familiar mais direto, ainda aqueles que viviam longe nos deslocamos até ter com eles e apresentar o nosso objetivo para com as crianças órfãs, mas sem poder fazer nada pela criança se o familiar mais direito dela não assinava. É assim que conseguimos que as crianças puderam voltar todos os sábados com a família delas e regressar ao Lar nos domingos de tarde. Tínhamos 10 infectadas com o vírus do HIV - Sida, com diferente graduação, vários deles tinham que receber o tratamento de retro-virais e levar um seguimento da doença. Resolvemos este assunto graças à colaboração da Comunidade de Santo Egídio estabelecida no Hospital da Manga-Chingussura.

 

Uma vez terminada a segunda face de construção demos entrada a outras 52 crianças órfãs, mas já não foram todas da Munhava, algumas vieram da Manga (Chingussura e Mascarenha) por ser apresentadas a crítica situação que viviam pelos membros da comunidade de Santo Egídio. Agora não estou a lembrar melhor a data de quando é que concluímos com a construção do Lar.

 

Pe. António José Aguilar Verdugo

Pároco de São José da Munhava nos anos 2001-2008

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