O LAR SILOÉ, GESTAÇãO DO PROJETO E EXECUÇãO
Em Dezembro do ano 2.000, num vôo procedente de Lisboa, aterro no
Aeroporto Internacional da Beira e estabeleço a minha morada na Paróquia da
Sagrada Família do Bairro da Manga-Mascarenha. Desde aí faço os meus primeiros
contato com o Bairro da Munhava e só no primeiro domingo da Quaresma de 2.001
(março) é que cheguei e foi apresentado à Paróquia de São José da Munhava pelo
Pe. Yocondo.
Até o mês de Agosto mantive a minha moradia na Paróquia da Sagrada
Família, desde lá é que ia a Munhava para limpar o recinto “cheio de fezes” e
arranjar a casa dos Padres muito deteriorada. Pronto um grupo de jovens do
Bairro da Munhava e alguns do Bairro da Manga-Mascarenha começaram a me ajudar
na tarefa das manhãs. Nas tardes iniciei encontros com grupos da Paróquia e
incentivei os encontros nas zonas (Comunidades). Ainda não estava tudo em ordem
quando um grupo de jovens de Machipisse vieram ter comigo para iniciar um
projeto com crianças: “A Sombra da Criança”. Aquilo achei muito interessante,
já que um branco fica surpreendido ao
chegar à África e constatar tantas crianças de aça para acolá, é assim que
iniciou o trabalho da Paróquia de São José da Munhava com crianças na etapa do
Pe. António José Aguilar Verdugo.
Com a chegada dos primeiros hóspedes, Pe. Ramón e Miguel, descobri novas
situações das crianças no Bairro da Munhava. Aquele gosto do Pe. Ramón por
passear com os acólitos da Paróquia lhe levou até a casinha da “Fundação de
Auxilio às Crianças Órfãs de Moçambique – FACOM” sita trás as barracas da
rotunda da Munhava-Matope (Rua Kruss Gomes), e me falou que tinha comprado
alimentos para aquelas crianças que estavam acompanhadas por um pastor duma
Igreja Protestante. Fiz-me presente no local, dias depois, e comecei a me
preocupar pela situação das crianças órfãs na Munhava. Como colaborador do
Pastor iniciei um projeto para financiar a construção duma nova casa para as
crianças órfãs da “Fundação de Auxilio às Crianças Órfãs de Moçambique –
FACOM”. Naquele entretempo que vai da elaboração do projeto até procurar
parceiros na Espanha para o financiar, surgiu alguns problemas entre Pastores
daquela Igreja (alguma coisa não ia bem com o doador sul-africano) e levaram as
crianças que tinham na rotunda da Munhava-Matope para o interior de Casquinha
em direção ao Vaz.
A partir destas confusões com os Pastores decidi apresentar a minhas
preocupações às Mães Legionárias da Paróquia da Munhava. Foram elas as grandes
colaboradoras que encontrei para elaborar a primeira estatística de crianças
órfãs residentes na Munhava de idades compreendidas dos zero aos catorze anos.
Percorremos todos os cantos da Munhava, de zona a zona, e encontramos a 189
crianças órfãs nessas idades. Neste trabalho realizado pelas Mães Legionárias,
quem mais me ajudou foi Dona Maria João Menezes (conhecida como Dona Maria
Brito).
Aquele primeiro projeto o reelaboramos e fizemos um novo projeto para
executar nos terrenos da Paróquia, com todo aquele problema da ocupação do
quintal pela Escola Primaria 25 de Junho, das barracas trás o Mercado Central
da Munhava, a defecação ao ar livre, a lagoa que cobria grande parte do
quintal... O primeiro que tínhamos a fazer foi a construção do muro no redor do
quintal e ao mesmo tempo desocupar o quintal de casa e barracas. Ao tempo que
íamos aterrando aquelas lagoas. Tudo foi feito com a ajuda do parceiro da
Espanha “Esperança para Moçambique” e eles próprios apresentaram o projeto a
Manos Unidas no ano de 2.002, ainda que no mês de Agosto do mesmo tive eu que
enviar uma carta de pedido do projeto já que Manos Unidas trabalha só com
parceiros no lugar de execução do projeto.
Em Abril-Maio de 2.003 participei na Assembléia do I.E.M.E. no Madrid
(Espanha) e ao término da mesma visitei a minha terra, onde tive possibilidade
de apresentar ao grande público a situação da Munhava e o empenho por construir
um orfanato na Paróquia de São José da Munhava. Entre as pessoas que vieram a
assistir aquela apresentação estavam alguns representantes da ONG “Siloé”.
A minha volta ao Moçambique recebo a noticia de que Manos Unidas
financia a construção do orfanato. No momento que recebemos o primeiro envio de
dinheiro iniciamos as obras com “Construções Mussalafo”. Encontramos muitas
dificuldades para realizar as fundações da cozinha- refeitório e do dormitório.
Enquanto a construção levava o seu ritmo, nós iniciamos o trabalho de
preparar as futuras mães que iam trabalhar no Lar com as nossas criançinhas
órfãs da Munhava. Com a ajuda de Dona Maria Brito e a Ir. Aurora (futura
Diretora do Lar Siloé) fomos escolhendo mães viúvas (ainda algumas eram casadas
devido a sua disponibilidade nas tarefas da Paróquia com respeito ao trabalho
de localização das criançinhas órfãs) das diferentes zonas (Comunidades) da
Munhava para formar a futura equipa das trabalhadoras do Lar Siloé.
De aquelas 189 crianças localizadas fizemos a primeira seleção, depois
de falar com as Mães Legionárias, Dona Maria Brito e Pe. António fomos
selecionando as 52 crianças órfãs em situação mais crítica devido à doença que apresentavam
algumas delas ou bem devido à falta de apoio das famílias (órfãos/meninos da
rua), ou bem devido a que a encarregada da criança ela uma bobó muito idosa sem
forças para aculimar.
Estes foram os critérios que Dona Maria Brito e Pe. António tiveram em
consideração no início do Lar Siloé: ajudar às crianças órfãs da Munhava e
ajudar as viúvas da Munhava ao mesmo tempo.
Sem terminar a construção do dormitório nos surpreende a grata notícia
que nos chega desde a ONG Siloé: eles receberam ajuda da Caja de Ahorros de San
Fernando de Sevilla/Jerez para construir o lar. Então continuamos as
construções, tivemos que duplicar o aterro com ajuda financeira de “Esperanza
para Moçambique”, e com os fundos procedentes de “Siloé” iniciamos o segundo
dormitório (ficou como dormitório dos rapazes) e a lavanderia-hospedaria.
Nesses mesmos meses volta novamente uma outra boa nova para a Paróquia de São
José da Munhava: a ONG “Siloé” se compromete a financiar as despesas do “Lar
Siloé”, e com um convenio a três bandas assinam o compromisso de garantir a boa
marcha do projeto com crianças órfãs da Munhava/Beira o Arcebispo da Beira, a
Provincial de São José de Cluny e a Presidenta da Asociación Jerezana de Ayuda
a los Enfermos de Sida “Siloé”.
As primeiras 52 crianças (26 rapazes e 26 raparigas) que recebemos, com
a autorização do seu familiar mais direto, ainda aqueles que viviam longe nos
deslocamos até ter com eles e apresentar o nosso objetivo para com as crianças
órfãs, mas sem poder fazer nada pela criança se o familiar mais direito dela
não assinava. É assim que conseguimos que as crianças puderam voltar todos os
sábados com a família delas e regressar ao Lar nos domingos de tarde. Tínhamos
10 infectadas com o vírus do HIV - Sida, com diferente graduação, vários deles
tinham que receber o tratamento de retro-virais e levar um seguimento da
doença. Resolvemos este assunto graças à colaboração da Comunidade de Santo
Egídio estabelecida no Hospital da Manga-Chingussura.
Uma vez terminada a segunda face de construção demos entrada a outras 52
crianças órfãs, mas já não foram todas da Munhava, algumas vieram da Manga
(Chingussura e Mascarenha) por ser apresentadas a crítica situação que viviam
pelos membros da comunidade de Santo Egídio. Agora não estou a lembrar melhor a
data de quando é que concluímos com a construção do Lar.
Pe. António José Aguilar Verdugo
Pároco de São José da Munhava nos anos 2001-2008
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